Amália da Piedade Rodrigues (Lisboa, 23 de Julho de 1920 — Lisboa, 6 de
Outubro de 1999) foi uma fadista, cantora e actriz portuguesa, considerada o
exemplo máximo do fado, comumente aclamada como a voz de Portugal e uma das
mais brilhantes cantoras do século XX. Está sepultada no Panteão Nacional,
entre os portugueses ilustres.
Tornou-se conhecida mundialmente como a Rainha do Fado
e, por consequência, devido ao simbolismo que este género musical tem na
cultura portuguesa, foi considerada por muitos como uma das suas
melhores embaixadoras no mundo. Aparecia em vários programas de televisão pelo
mundo fora, onde não só cantava fados e outras músicas de tradição popular
portuguesa, como ainda canções contemporâneas
(iniciando o chamado fado-canção) e mesmo alguma música de origem estrangeira
(francesa, americana , espanhola,
italiana, brasileira). Marcante contribuição sua para a história do Fado, foi a
novidade que introduziu de cantar poemas de grandes autores portugueses
consagrados, depois de musicados. Teve ainda ao serviço da sua voz a pena de
alguns dos maiores poetas e letristas seus contemporâneos, como David Mourão
Ferreira, Pedro Homem de Mello, Ary dos Santos , Manuel Alegre,
Alexandre O'Neill. Rodrigues falava e cantava em castelhano, francês, italiano
e inglês. Até a sua morte, em outubro de 1999, 170 álbuns haviam sido editados
com seu nome em 30 países , vendendo mais de 30 milhões de cópias em todo o
mundo, número 3 vezes maior que a população de Portugal.
Filha de Albertino de Jesus Rodrigues (Castelo Branco, Castelo Branco, 6
de Agosto de 1888 - 13 de Maio de 1962), um músico sapateiro que, para
sustentar os quatro filhos e a mulher (Fundão, Fundão, 3 de Fevereiro de 1913),
Lucinda da Piedade Rebordão (São Martinho, Fundão, 2 de Maio de 1892 - Graça,
Lisboa, 23 de Novembro de 1986), tentou a sua sorte em Lisboa . Amália nasceu a
1 de Julho de 1920, porém apenas foi registada dias depois, tendo no seu
assento de nascimento como nascida às cinco horas de 23 de Julho de 1920, na
rua Martim Vaz, na freguesia lisboeta da Pena. Amália pretendia, no entanto,
que o aniversário fosse celebrado a 1 de Julho ("no tempo das
cerejas"), e dizia: Talvez por ser essa a altura do mês em que havia
dinheiro para me comprarem os presentes. Catorze meses depois, o pai, não tendo
arranjado trabalho, volta com a família para o Fundão. Amália fica com os avós
na capital.
A sua faceta de cantora cedo se revela. Amália era muito tímida, mas
começa a cantar para o avô e os vizinhos, que lhe pediam. Na infância e
juventude, cantarolava tangos de Carlos Gardel e canções populares que ouvia e
lhe pediam para cantar.
Aos 9 anos, a avó, analfabeta, manda Amália para a escola, que tanto
gostava de frequentar. Contudo, aos 12 anos tem que interromper a sua
escolaridade como era frequente em casas pobres. Escolhe então o ofício de
bordadeira, mas depressa muda para ir embrulhar bolos.
Aos 14 anos decide ir viver com os pais, que entretanto regressam a
Lisboa. Mas a vida não é tão boa como em casa dos avós. Amália tinha que ajudar
a mãe e aguentar o irmão mais velho, autoritário. Trabalha como bordadeira,
engomadeira e tarefeira. Aos 15 anos vai vender fruta para a zona do Cais da
Rocha, e torna-se notada devido ao especialíssimo timbre de voz. Integra a
Marcha Popular de Alcântara (nas festividades de Santo António de Lisboa) de
1936. O ensaiador da Marcha insiste para que Amália se inscreva numa prova de
descoberta de talentos, chamada Concurso da Primavera, em que se disputava o
título de Rainha do Fado. Amália acabaria por não participar, pois todas as
outras concorrentes se recusavam a competir com ela. Conhece nessa altura o seu
futuro marido, Francisco da Cruz (c. 1915 - ?), um guitarrista amador, com o
qual casará em 1940. Um assistente recomenda-a para a casa de fados mais famosa
de então, o Retiro da Severa, mas Amália acaba por recusar esse convite, e
depois adiar a resposta, e só em 1939 irá cantar nessa casa.
Estreia-se no teatro de revista em 1940, como atracção da peça Ora Vai
Tu, no Teatro Maria Vitória. No meio teatral encontra Frederico Valério,
compositor de muitos dos seus fados.
Em 1943 divorcia-se a seu pedido. Torna-se então independente. Neste
mesmo ano actua pela primeira vez fora de Portugal. A convite do embaixador
Pedro Teotónio Pereira, canta em Madrid.
Em 1944 consegue um papel proeminente, ao lado de Hermínia Silva, na
opereta Rosa Cantadeira, onde interpreta o Fado do Ciúme, de Frederico Valério.
Em Setembro, chega ao Rio de Janeiro acompanhada pelo maestro Fernando de
Freitas para actuar no Casino Copacabana. Aos 24 anos, Amália tem já um
espectáculo concebido em exclusivo para ela. A recepção é de tal forma
entusiástica que o seu contrato inicial de quatro semanas se prolongará por
quatro meses. É convidada a repetir a turné, acompanhada por bailarinos e
músicos. É no Rio de Janeiro que Frederico Valério compõe um dos mais famosos
fados de todos os tempos: Ai Mouraria, estreado no Teatro República. Grava
discos, vendidos em vários países, motivando grande interesse das companhias de
Hollywood. Em 1947 estreia-se no cinema com o filme Capas Negras, o filme mais
visto em Portugal até então, ficando 22 semanas em exibição. Um segundo filme,
do mesmo ano, é Fado, História de uma Cantadeira.
Amália é apoiada por artistas inovadores como Almada Negreiros e António
Ferro. Esse que a convida pela primeira vez a cantar em Paris, no Chez Carrère,
e a Londres, no Ritz, em festas do departamento de Turismo que o próprio organiza.
A internacionalização de Amália aumenta com a participação, em 1950, nos
espectáculos do Plano Marshall, o plano de apoio dos Estados Unidos à Europa do
pós-guerra, em que participam os mais importantes artistas de cada país. O
êxito repete-se por Trieste, Berna, Paris e Dublin (onde canta a canção
Coimbra, que, atentamente escutada pela cantora francesa Yvette Giraud, é
popularizada por ela em todo o mundo como Avril au Portugal).
Em Roma, Amália actua no Teatro Argentina, sendo a única artista ligeira
num espectáculo em que figuram os mais famosos cantores de música clássica.
Em Setembro de 1952 a sua estreia em Nova Iorque fez-se no palco do La
Vie en Rose, onde ficou 14 semanas em cartaz. Ainda nos Estados Unidos, em 1953
canta pela primeira vez na televisão (na NBC), no programa do Eddie Fisher
patrocinado pela Coca-Cola, que teve que beber e de que não gostara nada. Grava
discos de fado e de flamenco. Convidam-na para ficar, mas não fica por que não
quer. Nos EUA editou o seu primeiro LP (as gravações anteriores eram em discos
de 78 rotações). Amalia Rodrigues Sings Fado From Portugal and Flamenco From
Spain, lançado em 1954 pela Angel Records, assinala a sua estreia no formato do
long-play, a 33 rotações, criado apenas seis anos antes e, na época, ainda
longe de conhecer a expressão de mercado que depois viria a conquistar. O
álbum, que seria editado em 1957 em Inglaterra e, um ano depois, em França,
nunca teve prensagem portuguesa.
Amália dá ao fado um fulgor novo. Canta o repertório tradicional de uma
forma diferente, num sincretismo do que é rural e do que é urbano.
Canta os grandes poetas da língua portuguesa (Camões, Bocage), além dos
poetas que escrevem para ela (Pedro Homem de Mello, David Mourão Ferreira, Ary
dos Santos, Manuel Alegre, O’Neill). Conhece também Alain Oulman, que lhe
compõe várias canções.
O seu fado de Peniche é proibido por ser considerado um hino aos que se
encontram presos em Peniche, Amália escolhe também um poema de Pedro Homem de
Mello Povo que lavas no rio, que ganha uma dimensão política.
A 26 de Abril de 1961, casa-se no Rio de Janeiro com o seu segundo
marido, o engenheiro luso-brasileiro César Henrique de Moura de Seabra Rangel
(Avelãs do Caminho, Anadia, c. 1920 - Zambujeira do Mar, Odemira, 11 de Junho
de 1997), filho de Augusto César de Seabra Rangel (Casa dos Rangel, Avelãs de
Caminho, Anadia, 16 de Abril de 1885 - idem, 28 de Outubro de 1929),
sobrinho-neto do 1.º Barão de Mogofores, e de sua mulher Teresa de Seabra de
Moura7 , com quem fica até à morte deste, em 1997.
Em 1966, volta aos Estados Unidos, actuando no Lincoln Center, em Nova
Iorque, com o maestro Andre Kostelanetz frente a uma orquestra, num programa
essencialmente feito de canções do folclore português numa das noites e num
outro, feito de fados (também com orquestra), na seguinte. O mesmo espectáculo
foi encenado, dias depois, no Hollywood Bowl. Voltaria ao Lincoln Center em
1968.
Ainda em 1966, o seu amigo Alain Oulman é preso pela PIDE. Amália dá
todo o seu apoio ao amigo e tudo faz para que seja libertado e posto na
fronteira.
Em 1970 é editado o álbum Com Que Voz.
No ano de 1971 encontra finalmente Manuel Alegre, exilado em Paris.
Em 1974 grava o álbum Encontro - Amália e Don Byas com o saxofonista Don
Byas.
Em 1976 é editado o disco Amália no Canecão gravado no Brasil. No mesmo
ano é lançado o álbum Cantigas da boa gente. Fandangueiro e Cantigas numa
Língua Antiga são lançados em 1977.
No ano de 1980 é lançado o disco Gostava de Ser Quem Era. Em 1982 é
lançado o Máxi-single Senhor Extraterrestre com dois temas de Carlos Paião. É
editado o álbum Amália Fado com temas de Frederico Valério.
Em 1983 é editado o álbum Lágrima a que se segue Amália na Broadway em
1984.
Em 1985 obtém grande sucesso a colectânea O Melhor de Amália: Estranha
forma de vida. É lançado um novo volume: O Melhor de Amália, vol. 2: Tudo isto
é fado.
Ao mesmo tempo, atravessa dissabores financeiros que a obrigam a desfazer-se
de algum do seu património.
Ao longo dos anos que passam, vê desaparecer o seu compositor Alain
Oulman, o seu poeta David Mourão-Ferreira e o seu marido, César Seabra, com
quem era casada há 36 anos, e que morre em 1997.
Em 1997 é editado pela Valentim de Carvalho o álbum Segredo com
gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975. É ainda publicado o livro
(Versos) com os seus poemas. É-lhe feita uma homenagem nacional na Exposição
Mundial de Lisboa (Expo 98).
Em Abril de 1999, Amália desloca-se pela última vez a Paris, sendo
condecorada na Cinemateca Francesa, por os muitos espectáculos que deu naquela cidade
e, dever-se a ela o facto da França começar a apreciar o fado. Já ligeiramente
debilitada, agradeceu aos franceses o facto de se ter começado a projectar no
mundo, pois era a partir de França que os seus discos começaram a espalhar-se.
A 6 de Outubro de 1999, Amália Rodrigues morre, em sua casa,
repentinamente, ao início da manhã, com 79 anos, poucas horas depois de
regressar da sua casa de férias no litoral alentejano. Imediatamente, o então
primeiro-ministro, António Guterres, decreta Luto nacional por três dias. No
seu funeral centenas de milhares de lisboetas descem à rua para lhe prestar uma
última homenagem. Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Dois anos
depois, a 8 de Julho de 2001, o seu corpo foi trasladado para o Panteão
Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa (após pressão dos seus
admiradores e uma modificação da lei que exigia um mínimo de quatro anos antes
da trasladação), e onde repousam personalidades consideradas expoentes máximos
da nacionalidade.
Amália Rodrigues representou Portugal em todo o mundo, de Lisboa ao Rio
de Janeiro, de Nova Iorque a Roma, de Tóquio à União Soviética, do México a
Londres, de Madrid a Paris (onde actuou tantas vezes no prestigiadíssimo
Olympia).
Propagou a cultura portuguesa, a língua portuguesa e o fado.
Bruno de Almeida realizou quatro filmes sobre Amália: Amália, Live in
New York City (um filme-concerto de 1990 de um espectáculo em (Nova Iorque no
Town Hall - auditório da cidade), Amália - uma estranha forma de vida (um
documentário de cinco horas, em formato de série), Amália - Expo'98 (a respeito
de um dia dedicado a Amália Rodrigues, por ocasião da Exposição Mundial de 1998
em (Portugal), e A Arte de Amália (documentário de 90 minutos, pensado para uma
audiência internacional, que se estreou no Cinema Quad, em Nova Iorque, em
Dezembro de 2000).
Amália, o Filme, a primeira biografia ficcionada da diva do fado, estreia-se a 4 de Dezembro de 2008.
A rodagem do filme começou em Junho de 2008. Com realização de Carlos
Coelho da Silva, tem argumento de Pedro Marta Santos e de João Tordo. É
produzido pela Valentim de Carvalho Filmes e conta com a participação
financeira da RTP. Amália é encarnada pela actriz Sandra Barata Belo.
Filipe La Féria encenou dois musicais inspirados em Amália e na sua
história de vida, o primeiro em 1999, intitulado Amália e protagonizado por
Alexandra. Em 2012 La Féria encena o
musical intitulado Uma Noite em Casa de Amália, protagonizado por Vanessa
Silva, onde retrata uma das tertúlias que Amália fazia em sua casa.
O álbum Amália Hoje foi lançado em 2009 pelo projecto português Hoje com
fados de Amália Rodrigues à luz da sonoridade pop actual.
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